7 de out. de 2012

Clara


Era fim de ano, o barulho dos fogos e das festas tomava conta de toda a rua, enquanto Arthur e Clara estavam discutindo novamente, aquela era a quinta discussão da semana. Os dois estavam com os nervos à flor da pele. A mulher o acusava de traição, pois este chegava bêbado todas às noites e com cheiro de perfume de mulher. Tinham um filho de 10 anos, seu nome era Henrique, e ele sempre se trancava em seu quarto e chorava por horas ao ver seu pais brigando.
Durante a discussão daquela noite, Clara deu um tapa forte no rosto de Arthur, este revoltado com aquilo, pegou um revólver que guardava dentro do armário e dizia que a mataria. Clara sem medo avançou contra o marido e começaram uma luta, até que se ouviu um barulho, os dois permaneceram imóveis, do estômago de Clara jorrava um rio de sangue, de seus olhos uma lágrima de dor, caiu então para trás como um boneco de pano, sem sinal de vida para desespero de Arthur que havia ameaçado a mulher sem intenção de matá-la. O homem ficou ali imóvel por alguns segundos, até que se lembrou de seu filho, pois o garoto não poderia ver aquela cena horrenda. Agindo rápido, pegou o corpo da mulher, levou até a garagem e a colocou no porta-malas, foi até o matagal mais próximo e a enterrou.
Voltou para seu apartamento, ainda permanecia assustado com tudo o que havia acontecido. Chegando lá encontrou seu filho brincando no sofá, parecia estar conversando sorridente com alguém, porém não havia mais ninguém ali além de pai e filho.
Como ainda estava eufórico pelo que fez, resolveu deixar pra lá e ir pro quarto pra pensar sobre o que falar para seu filho e para quem perguntasse o paradeiro de sua mulher. Pensou em ligar para a polícia e inventar que ela havia sido sequestrada, mas logo o pensamento em ir pra cadeia o assustou. Resolveu não fazer nada, e que quando o perguntassem diria que ela fugiu com outro. Digitou uma carta, para que sua letra não fosse reconhecida, isto já serviria de alguma desculpa. Na carta constaria que a mulher o abandonou e fugiu com outro, por não amar mais o marido e que logo voltaria para buscar seu filho.
Os dias se passaram, a polícia começou uma investigação pelo desaparecimento de Clara, a carta de Arthur não convenceu as autoridades. Todo dia antes de dormir, ele ainda conseguia escutar uma risada infernal vinda de dentro do banheiro de seu quarto, às vezes via sua esposa perambulando à noite pela casa. Todavia tratava aquilo apenas como alucinação e remorso criados pela sua mente e não dava muita atenção. Continuou levando sua vida normalmente, se encontrando com suas amantes com muito mais frequencia do que antes.
Certo dia, o homem entrou em sono profundo, acordou algumas horas depois com um barulho vindo de dentro do banheiro de seu quarto. Caminhou até lá e deu pra ouvir nitidamente o cantarolar de seu filho. O garoto estava pulando em círculos enquanto cantava. Parou ao ver seu pai ali na porta e falou: "_Esta noite morreu alguém papai. Mamãe me contou que as pessoas más devem morrer. Vá até o apartamento de sua mais nova amiga hoje, mamãe estará te esperando lá." E apontando mostrou sua mãe ao lado sorrindo, com um ar maligno e assustador, o rosto pálido e cadavérico e o corpo todo banhado em sangue.
Arthur acordou então assustado do sonho que acabara de ter. Refletiu por uns minutos, foi ver seu filho que dormia como um anjo e resolveu ir até a casa de Vivian para alguns momentos de prazer. Vivian era uma das amantes de Arthur, a mais recente delas, e o homem estava visitando ela frequentemente sendo esta uma das principais causas da brigas entre ele e Clara.
Chegando ao apartamento da mulher, percebeu a porta aberta. Adentrou no apartamento que estava aparentemente destruído, parecia que havia passado um furacão no local. De dentro do banheiro o homem ouviu um grito de socorro. Correu até lá e abrindo a porta, se deparou com o corpo de Vivian enforcado e com os dois pulsos cortados. Sangue por todos os lados. Predominavam escrito em sangue nas paredes as palavras vingança e sofrimento.
Arthur ouviu a porta do apartamento se fechar. Correu até lá em desespero, enquanto começou a ouvir novamente o cantarolar de seu filho vindo do banheiro. Voltou até lá engolindo seco, quando chegou, pôde ver seu filho pulando em círculos em volta do corpo de Vivian. Foi quando Vivian acordou e começou a reclamar: "_Seu filho da p..., como pode deixar ela me matar, como você é fraco. Não serve nem pra fazer o serviço direito. Você não conseguiu matá-la e ela também não pode te matar, mas eu posso."
O corpo de Vivian então caiu de onde estava pendurado e avançou contra Arthur. Começaram uma luta, rolaram de um lado para o outro. A mulher o arranhava por todos os lados, até que ele conseguiu se soltar. Correu até a cozinha e pegou uma faca, foi quando Vivian avançou contra ele tomando uma facada certeira no coração. Ela caiu por um momento e se levantou logo em seguida, rindo histericamente e falando com voz de demônio, fiel aos filmes do gênero. Ela mesma arrancou a faca com as próprias mãos e tentou acertar Arthur, este desviou e arrancou a faca da mão da garota, logo começou a esfaqueá-la como um louco. Foram várias facadas, enquanto o sangue jorrava e manchava a sua roupa e o chão do apartamento.
Assim que ele se cansou, se deu conta de que a mulher estava morta. Escutou então o barulho do carro da polícia vindo do lado de fora, com certeza os vizinhos haviam escutado o barulho da briga. Arthur se desesperou, pois a polícia não acreditaria naquilo. Foi até o banheiro para pegar seu filho, mas este não estava mais lá. O mais estranho de tudo aquilo era que o banheiro estava limpo, sem sinal do sangue que estava espalhado lá. A porta do apartamento se abriu sozinha e ele então correu e desceu as escadas dos fundos. Ligou seu carro e saiu em disparada. Enquanto dirigia, recebeu a ligação de Stela, a moça estava chorando dizendo para que Arthur fosse até lá ou a mulher dele a mataria, pois ela havia descoberto tudo.
Sem acreditar no que estava acontecendo, resolveu ir até onde ele havia enterrado a mulher. Chegando lá, começou a cavar o buraco novamente, mas ao invés de achar a sua mulher, lá estava o corpo de Stela. Perplexo com aquilo ele foi se afastando de costas até esbarrar no corpo de sua mulher, que sorria friamente para ele dizendo que ele era o responsável por aquela morte. Olhando em volta, percebeu que estava dentro do apartamento de Stela, esta pulou em cima dele e começou a enforcá-lo. A moça gritava e batia a cabeça dela repetidamente contra o rosto do homem. Arthur segurou a cabeça de Stela e bateu repetidamente contra a parede, transformando a parte de trás do crânio da garota em carne viva. Fez isto até que ela parasse de respirar. Suspirou aliviado ao vê-la morta, mas ao mesmo tempo o medo tomou conta de todo o seu ser. Ao se virar, viu sua mulher com seu revólver na mão apontado em sua direção, o mesmo que ele havia usado para matá-la acidentalmente. Ele implorou pela sua vida, mas ela sem parecer demonstrar o mínimo de piedade, apertou o gatilho. Arthur então acordou em seu quarto, estava suando frio, aquele pesadelo parecia ter sido muito real.
Levantou-se então de sua cama, olhou em volta do quarto, foi até o banheiro e tudo parecia extremamente normal. Seguiu até a sala, já era manhã, seu filho estava ali sentado, sorridente e feliz.
Arthur perguntou ao garoto se este não sentia falta de sua mãe. Ao que o garoto respondeu: "_Como assim papai, ela está sempre brincando comigo, neste momento ela está ao seu lado e disse que nunca nos abandonará."
Um calafrio subiu a espinha de Arthur, seu medo havia triplicado. Então arrombaram a porta do apartamento, era a polícia. O homem estava banhado em sangue, foi acusado pela morte de duas mulheres. Eram elas Vivian que ele havia assassinado esfaqueada e Stela, garota de programa que ele matou de forma insana batendo a cabeça da jovem contra a parede.
O garoto foi morar com os avós, para tentar ter uma vida normal e assim foi. Seu pai foi internado em um hospital para doentes mentais. Vivia atacando as pessoas dizendo que elas sempre o atacavam, ficava preso em um canto do quarto, todo trêmulo dizendo que sua esposa não parava de sorrir para ele. Os médicos o consideravam um louco, com algum tipo de esquizofrenia paranóide. Talvez eles estivessem certos, ou talvez realmente o espírito de Clara estivesse ali, para atormentar Arthur até o último dia de sua triste vida.

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