31 de ago. de 2012

Tormento Anônimo


O vai e vem da enxada arrancava litros de suores do rosto de Celso, nunca fora acostumado a cavar antes, naquele momento estava realizando um enterro em seu quintal. O rapaz havia acabado de matar sua namorada estrangulada, o desespero estava estampado em seu rosto, ele tentava terminar o mais rápido possível com aquilo. Assim que acabou de cobrir o corpo com terra, ele sentiu um alívio e ao mesmo tempo um arrepio na espinha, pois Denis, seu melhor amigo, acabara de chegar ao fundo da casa e perguntou o que o rapaz estava fazendo, Celso estava branco, não sabia o que dizer, respondeu com uma brincadeira: "_Estava muito tedioso aqui e então pensei em tentar achar algum tesouro enterrado." Depois de dizer isso, os dois caíram em gargalhadas, Celso então chamou Denis pra tomar uma cerveja e relaxarem um pouco, e assim foi.
Os dias se passaram e os amigos do casal sentiram falta de Daniela, a namorada de Celso, fazia um ano que os dois namoravam, um namoro lindo de se ver, sempre amorosos um com o outro. Foram à procura de Celso, este se limitava a chorar e a dizer que ele e os pais dela já haviam comunicado à polícia o desaparecimento da garota e até então não obtiveram respostas.
Os dias se passaram e nada havia se esclarecido, Denis vendo o "sofrimento" do amigo, reuniu a turma e resolveram passar o fim de semana na fazenda dos pais de Hícaro, este que estranhamente parecia mais abatido que Celso.
Era uma manhã linda quando os amigos chegaram até a fazenda, uma paisagem maravilhosa ao redor, ao longe dava pra se ver um lago, as árvores balançavam lentamente, um ambiente calmo e prazeroso. Estavam no local Celso, Ingrid, Jaciara(que era apaixonada por Celso), Marília e Patrick que eram namorados, Denis que era o melhor amigo de Celso e Hícaro que foi quem disponibilizou a fazenda para o fim de semana.
O dia na fazenda correu bem, todos se divertiram muito, até que a noite chegou e Jaciara fez um comentário inconsequente, talvez até de propósito sobre Daniela, sua palavras foram ditas com um sorriso no rosto e dirigidas à Celso: "_Até que a 'lombriga branquela' não faz tanta falta."
Hícaro se levantou, disse para todos ficarem à vontade e se retirou batendo os pés, com uma raiva nítida no rosto, com certeza pelas palavras pronunciadas por Jaciara, pelo rumo que tomava iria em direção ao seu quarto, os outros logo se dispersaram com olhares indiferentes em direção à Jaciara, Celso fingiu não ter ouvido e foi dar uma volta pelos arredores da fazenda, enquanto Marília e Patrick discutiam por algum fato qualquer.
Celso se distanciou um pouco do grupo, andou em meio à algumas árvores enormes, estava indo em direção ao lago. Parou derepente, o rapaz estava ouvindo passos atrás de si, a estranha sensação de estar sendo observado tomou conta de seu ser, alguém ria em algum lugar daquele local deserto, estranhamente aquele local estava infestado com o aroma de sua namorada que ele havia assassinado, o rapaz então gritou: "_Quem está ai?" Como ninguém respondeu, ele virou-se para continuar sua caminhada, quando um cadáver caiu bem à sua frente, era o corpo de Daniela. Celso ficou branco, olhava para um lado e para o outro, parecia estar em pânico, havia um bilhete grudado junto ao corpo com a mensagem: "Eu sei de tudo"
Enquanto isso a fazenda estava em silêncio, muitos provavelmente estariam em seus quartos, ou estariam dormindo. Patrick ainda estava acordado quando alguém entrou em seu quarto, provavelmente seria sua namorada, passou-se alguns minutos ouviu-se gritos e móveis se quebrando vindos do quarto do rapaz. Todos correram para olhar o que estaria acontecendo. Marília estava ao lado do corpo de seu amado que estava terrivelmente desconfigurado com cortes por toda a extensão do corpo, o sangue pintava o chão, as paredes e as mãos da mulher que chorava inconsolável, o primeiro a chegar ao quarto e ver a cena foi Hícaro, Denis chegou logo depois, Jaciara e Ingrid chegaram praticamente juntas após alguns minutos e por fim chegou Celso que já estava com cara de espanto e agora parecia surpreso com aquela cena, na parede havia um estranho recado escrito com sangue: "É apenas o começo"
A polícia foi até o local, não dava pra acusar ninguém, não havia rastros deixados pelo assassino, a letra do sangue na parede era do próprio Patrick, talvez houvesse sido obrigado a escrever. Marília foi presa temporariamente, pois era a principal suspeita, a pobre estava aparentemente arrasada com tudo aquilo.
Todos voltaram para a cidade, para continuarem suas vidas. Celso chegou em sua casa e como costume checou a caixa de correios, havia uma carta anônima com fotos de Hícaro e Daniela juntos e um bilhete com letras recortadas de revistas: "Se não matá-lo, publicarei isto nos jornais e entregarei à polícia, você passará a ser o principal suspeito da morte daquela 'lombriga branquela'." Pronto, Celso logo parou e teve a certeza de que era Jaciara que estaria fazendo tudo aquilo, apenas ela chamava Daniela assim, sem pensar duas vezes ele se dirigiu ao apartamento de Jaciara, chegou no local disposto a colocar um fim na vida da garota, já tinha tudo planejado para que nada desse errado. Tocou a campainha várias vezes, porém ninguém apareceu. Já impaciente, girou a maçaneta e percebeu que a porta estava aberta, caminhou cuidadosamente até o quarto de Jaciara, quando chegou não pode acreditar na cena grotesca que estava à sua frente. De um lado do quarto estava o corpo de Daniela, crucificado e decomposto, do outro o corpo nú e sem vida de Jaciara, crucificado de cabeça para baixo, uma incrível alusão ao sagrado e ao profano, ao redor do quarto estavam espalhadas as mesmas fotos que foram enviadas para Celso naquele dia e uma mensagem junto à uma das fotos: "Chegou atrasado, se não cumprir o combinado até amanhã, tudo isto será publicado."
Celso pegou todas as fotos e saiu louco em direção à casa de Hícaro, aquelas fotos não poderiam ir à público, ele não matou Daniela por causa de traição, até porque ele nem sabia que estava sendo traído, Celso matou a garota porque perdeu a calma numa discussão com sua namorada e lhe deu um soco, como esta ameaçou ir até a polícia, o rapaz a estrangulou até a morte.
Celso parou em frente à casa de Hícaro, este veio atendê-lo e lhe chamou para entrar, assim que o homem virou as costas, sem pensar duas vezes, Celso retirou um punhal de dentro de seu bolso e deu várias facadas nas costas de Hícaro, até este cair sem vida em volta de seu próprio sangue. No interior da residência uma mulher perguntava: "_Hícaro, quem está ai? Volte para a cama." Com medo de descobrirem algo, Celso foi até o quarto, subiu na cama onde a mulher estava, e após alguns segundos de luta, cortou a jugular da mulher, inundando a cama de sangue. O rapaz pegou gasolina e fósforo e colocou fogo na casa, enquanto o lugar era consumido pelas chamas, pegou seu carro e foi embora.
Chegando em sua casa, já atordoado, abriu a porta e percebeu que alguém já estava lá, voltou ao carro e trouxe seu punhal junto de si. Andou pelos corredores quando tomou uma forte pancada na cabeça, caindo desmaiado.
Acordou amarrado e amordaçado, seu amigo Denis de pé em frente a ele, estava com o rosto encharcado de lágrimas, tinha um revólver em mãos e dizia: "_Não irei te perdoar pelo que fez, você matou ela, matou os nossos amigos, o que você fez não tem perdão, eu te considerava tanto, mas você não merece viver mais."
Enquanto ele levantava o revólver e falava, foi atacado pelas costas com uma facada de Ingrid, a faca entrou certeira no coração do rapaz, que aos poucos perdeu o ar e antes de  cair sem vida disse quase sem voz: "_Porque?" Caiu então com o rosto ao chão. Ingrid libertou Celso, que a abraçou como forma de agradecimento, seus olhares se cruzaram e trocaram beijos calorosos um com o outro.
Tudo foi "esclarecido", Denis foi o culpado pelas mortes, encontraram impressões digitais suas em alguns dos crimes, Marília foi libertada e mudou de cidade, Celso e Ingrid estavam casados e iriam passar o fim de semana na casa de praia do rapaz.
Enquanto dormia, Celso ouviu um barulho estranho vindo de dentro do armário, levantou devagar e foi pé por pé até lá, abrindo a porta bem devagar, atrás dele, sem ele perceber, permanecia alguém parado e imóvel, observando cada detalhe. Quando o rapaz abriu o armário, um corpo totalmente decomposto pelo tempo caiu em cima dele, ele não podia acreditar no que via, com certeza não era Denis quem havia feito aquilo tudo, então quem seria? Aquilo nunca teria um fim? Empurrando o cadáver ao chão e se afastando de costas, assustado com o que via, sentiu que esbarrou em alguém, quando se virou, observou nitidamente o sorriso e a frieza de Ingrid, esta só teve o trabalho de passar a faca no pescoço de Celso e sentir o jato de sangue quente cobrir seu rosto, o rapaz caiu agonizante ao chão tentando gritar por socorro, porém estava afogado em seu próprio sangue, a última imagem que viu foi o sorriso satisfeito e triunfante de Ingrid, esta soltou uma frase, uma adaptação de um trecho famoso de Nietzsche, a última coisa que Celso escutou antes de morrer: "_Sem a 'morte', a vida seria um erro"

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