22 de out. de 2013

Maria Padilha

Era uma noite escura e fria, já se passavam das 11 da noite. Helen estava a caminho da casa de sua avó. Chegou na porta e chamou, porém ninguém atendeu. A garota chamou mais algumas vezes e nada de alguém responder. Helen resolveu entrar na casa de sua avó, caminhou em direção à sala, chamou novamente mas ninguém respondeu. A garota resolveu ir até o quarto da avó, chegando lá, encontrou algumas pessoas saindo do quarto, todas vestidas de médico. O local estava visualmente diferente, parecia mais como um banheiro sujo do que um quarto. Uma mulher branca, de cabelos negros se encontrava chorando com uma das mãos entre o rosto e com um bisturi em mãos. Helen caminhou em direção à mulher para perguntar o que estava acontecendo, foi quando a mulher tirou a mão do rosto e virou para a garota dizendo em tom agressivo: "_Olhe o que você fez, olhe. Você irá pagar, todos irão pagar." O rosto da mulher estava horrível, sua face estava super pálida, seu olho esquerdo estava dependurado por um nervo, seu outro olho era nitidamente azul. A mulher então deu um último grito: "_Irei matar todos vocês." A mulher avançou contra Helen, a garota estava tremendo de medo e suando frio, ela não conseguia se mover, enquanto que a mulher lançou o bisturi de encontro ao olho da garota e em tom lento ia perfurando o globo ocular da pobre.
Já era manhã. Helen acordou desesperada. Por sorte, tinha sido tudo um sonho, um terrível sonho que finalmente teve um fim. Seu namorado acordou com o grito que ela deu ao acordar, perguntando preocupado o que havia acontecido. Helen contou cada detalhe e estranhamente Júlio dizia ter tido um sonho com uma mulher parecida com a que a garota descreveu. Helen soltou uma risada dizendo: "_Estamos ficando loucos e paranóicos. Aquilo que fizemos foi apenas uma brincadeira, pois a lenda de Maria Padilha é apenas lenda, não devemos ficar com isso na cabeça, estamos parecendo crianças de 6 anos." Júlio não era de total acordo: "_Não sei Helen, vamos até a casa de sua avó, ver como estão sua irmã  e o seu primo. Ontem eu não lhe contei, mas Edgar estava me dizendo que estava tendo sonhos frequentes com a mulher que sonhamos hoje, não seria uma coincidência muita estranha?" Helen deu de ombros: "_Estamos sendo apenas crianças infantis e assustadas."
Chegando na casa da avó, perceberam que algo estranho acontecera. A polícia estava no local. Antonieta, a irmã de Helen, chorava aos soluços na porta. Edgar, o primo de Helen estava morto. Aparentemente parecia assassinato, porém não encontraram vestígios para que alguém pudesse ser o culpado. Não havia digitais, não havia pistas, não havia motivos. Porém, é muito estranho deduzir que alguém amarrou uma corda no pescoço e se enforcou até quase arrancar a própria garganta. A avó de Helen estava horrorizada, se encontrava em choque. Helen perguntou: “_Vovó, a senhora está bem?” A velha respondeu: “_Ela irá matar todos vocês, pois vocês são os jovens idiotas que acordaram a Maria Padilha.” Helen se espantou com o que a avó acabara de falar, afinal ninguém mais sabia do que haviam feito, a não ser ela, o namorado, Edgar que havia morrido e Antonieta. Júlio completou: “_Viu só, eu sabia que não era uma boa ideia brincar com estas coisas.” Helen deu de costas: “Isto foi tudo um mal entendido, afinal Edgar já era depressivo, pra mim foi suicídio e eu não ligo se ele o fez, acho tão idiota isto. Ele acaba de deixar a família triste por ele e isto é desumano.”
Já era manhã, todos os policiais haviam saído do local, o corpo agora estava em um caixão, em volta desse caixão muitas pessoas tristes. Familiares e amigos lamentavam a perda de um ser tão querido para eles. Alguns diziam: “_Pobrezinho, a depressão acabou com ele.” Outros ainda: “_Tão jovem, acabando assim com a própria vida, que desperdício.” Helen estava lá ao lado de Júlio. Apesar de se esconder por trás de uma jovem dura e sem sentimentos, ela estava profundamente triste com o que tinha acontecido. Por um momento Helen sentiu um calafrio na espinha, uma voz conhecida sussurrou em seu ouvido: “_É apenas o começo.” A garota virou rápido para trás e não viu ninguém. Ao seu lado ela ouviu uma jovem lamuriando: “_Que inveja eu tenho do Edgar, queria eu ter coragem para fazer o mesmo.” A mesma voz que sussurrou falou para a garota: “_Simples, eu o faço por você.” Helen se virou para ver o que estava acontecendo. A cena era horrível. A mulher rasgava o pescoço da garota com violência e prazer. Dos olhos da garota caíam rios de lágrimas, enquanto que a sua assassina ria freneticamente. A mulher então empurrou a garota para o lado, esta caiu sem vida em meio todo aquele “mar vermelho” que escapou de sua artéria. Helen olhou para a assassina e teve um sobressalto. Era a mesma mulher de seu sonho. Seu olho esquerdo permanecia dependurado por um nervo, do mesmo jeito que estava no último sonho. A mulher como sempre com suas vestes de paciente e um ódio de dar medo estampado em seu rosto. Ela então gritou: “_Mais uma se foi, olhe você mesmo Helen, tente me dizer se você será capaz de sobreviver. Irei arrancar seu nervo óptico sem anestesia e você sofrerá as dores do inferno.” Após a fala da mulher, a garota que estava supostamente morta se levantou. Helen não a havia conhecido da primeira vez, pois esta possuía um capuz sobre o rosto, porém dessa vez ela retirou o capuz. Para horror de Helen, era sua irmã, esta falou para Helen engasgando em seu próprio sangue: “_Veja só o que fizemos. Vovó tinha razão, Edgar está arrependido, eu também estou, mas eu não te amo, quero a sua morte irmãzinha.” Dito isto, soltou uma risada infernal, no mesmo instante em que começou a chorar: “_Me ajude por favor”
Helen acordou. O velório estava no fim. Os homens estavam preparando para carregar o caixão para o carro funerário, a fim de irem enterrar o corpo. Helen teve um súbito sentimento ruim, pois sua irmã não estava ali sentada ao seu lado. Júlio que estava chegando naquele momento, viu sua namorada andar de um lado para outro procurando por alguém e perguntou: “_O que foi Helen? Quem você está procurando?” Ao que a jovem respondeu: “_Minha irmã, ela sumiu.” O carro funerário deu a partida e foi em direção ao cemitério, assim como todos os outros carros acompanhando o cortejo. Helen e Júlio não saíram dali, continuaram procurando pela irmã. Uma porta então se abriu, era a avó de Helen, em seus braços estava o corpo da pobre Antonieta. O sangue jorrava como uma cachoeira, o pescoço da garota tinha ficado irreconhecível. A velha então falou: “_Vejam só o que fizeram, você estão acabando com a própria vida de vocês, vocês são uns irresponsáveis. Maria Padilha, não escutem Maria Padilha, ela irá matar vocês. Vocês irão arder junto com ela nas chamas do inferno.”
Passaram-se uma semana após o ocorrido. A avó de Helen foi internada em um sanatório, pois não parava de anunciar o nome Maria Padilha, parecia até uma obsessão. Helen não sabia o que fazer, estava perdida, o mundo parecia ter virado ao avesso. Resolveu então ir ao hospício visitar a avó e chamou Júlio para ir com ela. Júlio porém respondeu que iria descansar um pouco, pois desde que tudo aconteceu ele não havia dormido bem. Concordaram que Júlio a buscaria mais tarde e assim foi.
Já eram mais ou menos 19:00 quando Júlio chegou no hospício para buscar Helen. Ao chegar no local, encontrou tudo deserto. Em um quarto alguém chorava compulsivamente. Curioso, Júlio caminhou guiado pelo som até o local. Chegando lá, o rapaz abriu a porta. Ele não podia acreditar na cena que estava vendo, sua namorada estava morta, sem os dois olhos, alguém os havia perfurado profundamente. Júlio chorou, aquilo era horrível. Alguém atrás dele amarrou um plástico em sua cabeça, o rapaz lutou, esperneou e não conseguiu se soltar. Acabou morrendo sem ar. No outro dia cedo, Helen estava sendo levada pra o hospício, pois teve um ataque de histeria após ter encontrado o namorado morto. Ela berrava, chorava, amaldiçoava, sua vida havia acabado.

Dias depois em seu quarto, a jovem foi encontrada morta, com os olhos perfurados. Aquela morte definitivamente não poderia ser considerada suicídio, porém era a única explicação, já que em suas mãos estava a tesoura que havia feito o trabalho. Antes de morrer, ela havia escrito algo em um pedaço de papel, algo que intrigou as autoridades: “Nunca brinque com os mortos, ou eles podem brincar com você.”