Era uma noite escura e fria, já se passavam das 11 da noite. Helen
estava a caminho da casa de sua avó. Chegou na porta e chamou, porém ninguém
atendeu. A garota chamou mais algumas vezes e nada de alguém responder. Helen
resolveu entrar na casa de sua avó, caminhou em direção à sala, chamou
novamente mas ninguém respondeu. A garota resolveu ir até o quarto da avó,
chegando lá, encontrou algumas pessoas saindo do quarto, todas vestidas de
médico. O local estava visualmente diferente, parecia mais como um banheiro
sujo do que um quarto. Uma mulher branca, de cabelos negros se encontrava
chorando com uma das mãos entre o rosto e com um bisturi em mãos. Helen
caminhou em direção à mulher para perguntar o que estava acontecendo, foi
quando a mulher tirou a mão do rosto e virou para a garota dizendo em tom
agressivo: "_Olhe o que você fez, olhe. Você irá pagar, todos irão
pagar." O rosto da mulher estava horrível, sua face estava super pálida,
seu olho esquerdo estava dependurado por um nervo, seu outro olho era
nitidamente azul. A mulher então deu um último grito: "_Irei matar todos
vocês." A mulher avançou contra Helen, a garota estava tremendo de medo e
suando frio, ela não conseguia se mover, enquanto que a mulher lançou o bisturi
de encontro ao olho da garota e em tom lento ia perfurando o globo ocular da
pobre.
Já era manhã. Helen acordou desesperada. Por sorte, tinha sido tudo um
sonho, um terrível sonho que finalmente teve um fim. Seu namorado acordou com o
grito que ela deu ao acordar, perguntando preocupado o que havia acontecido.
Helen contou cada detalhe e estranhamente Júlio dizia ter tido um sonho com uma
mulher parecida com a que a garota descreveu. Helen soltou uma risada dizendo:
"_Estamos ficando loucos e paranóicos. Aquilo que fizemos foi apenas uma
brincadeira, pois a lenda de Maria Padilha é apenas lenda, não devemos ficar
com isso na cabeça, estamos parecendo crianças de 6 anos." Júlio não era
de total acordo: "_Não sei Helen, vamos até a casa de sua avó, ver como
estão sua irmã e o seu primo. Ontem eu
não lhe contei, mas Edgar estava me dizendo que estava tendo sonhos frequentes
com a mulher que sonhamos hoje, não seria uma coincidência muita
estranha?" Helen deu de ombros: "_Estamos sendo apenas crianças
infantis e assustadas."
Chegando na casa da avó, perceberam que algo estranho acontecera. A
polícia estava no local. Antonieta, a irmã de Helen, chorava aos soluços na
porta. Edgar, o primo de Helen estava morto. Aparentemente parecia assassinato,
porém não encontraram vestígios para que alguém pudesse ser o culpado. Não
havia digitais, não havia pistas, não havia motivos. Porém, é muito estranho
deduzir que alguém amarrou uma corda no pescoço e se enforcou até quase
arrancar a própria garganta. A avó de Helen estava horrorizada, se encontrava
em choque. Helen perguntou: “_Vovó, a senhora está bem?” A velha respondeu: “_Ela
irá matar todos vocês, pois vocês são os jovens idiotas que acordaram a Maria
Padilha.” Helen se espantou com o que a avó acabara de falar, afinal ninguém
mais sabia do que haviam feito, a não ser ela, o namorado, Edgar que havia
morrido e Antonieta. Júlio completou: “_Viu só, eu sabia que não era uma boa
ideia brincar com estas coisas.” Helen deu de costas: “Isto foi tudo um mal
entendido, afinal Edgar já era depressivo, pra mim foi suicídio e eu não ligo
se ele o fez, acho tão idiota isto. Ele acaba de deixar a família triste por
ele e isto é desumano.”
Já era manhã, todos os policiais haviam saído do local, o corpo agora
estava em um caixão, em volta desse caixão muitas pessoas tristes. Familiares e
amigos lamentavam a perda de um ser tão querido para eles. Alguns diziam:
“_Pobrezinho, a depressão acabou com ele.” Outros ainda: “_Tão jovem, acabando
assim com a própria vida, que desperdício.” Helen estava lá ao lado de Júlio.
Apesar de se esconder por trás de uma jovem dura e sem sentimentos, ela estava
profundamente triste com o que tinha acontecido. Por um momento Helen sentiu um
calafrio na espinha, uma voz conhecida sussurrou em seu ouvido: “_É apenas o
começo.” A garota virou rápido para trás e não viu ninguém. Ao seu lado ela
ouviu uma jovem lamuriando: “_Que inveja eu tenho do Edgar, queria eu ter
coragem para fazer o mesmo.” A mesma voz que sussurrou falou para a garota:
“_Simples, eu o faço por você.” Helen se virou para ver o que estava
acontecendo. A cena era horrível. A mulher rasgava o pescoço da garota com
violência e prazer. Dos olhos da garota caíam rios de lágrimas, enquanto que a
sua assassina ria freneticamente. A mulher então empurrou a garota para o lado,
esta caiu sem vida em meio todo aquele “mar vermelho” que escapou de sua
artéria. Helen olhou para a assassina e teve um sobressalto. Era a mesma mulher
de seu sonho. Seu olho esquerdo permanecia dependurado por um nervo, do mesmo
jeito que estava no último sonho. A mulher como sempre com suas vestes de
paciente e um ódio de dar medo estampado em seu rosto. Ela então gritou: “_Mais
uma se foi, olhe você mesmo Helen, tente me dizer se você será capaz de
sobreviver. Irei arrancar seu nervo óptico sem anestesia e você sofrerá as
dores do inferno.” Após a fala da mulher, a garota que estava supostamente
morta se levantou. Helen não a havia conhecido da primeira vez, pois esta
possuía um capuz sobre o rosto, porém dessa vez ela retirou o capuz. Para
horror de Helen, era sua irmã, esta falou para Helen engasgando em seu próprio
sangue: “_Veja só o que fizemos. Vovó tinha razão, Edgar está arrependido, eu
também estou, mas eu não te amo, quero a sua morte irmãzinha.” Dito isto,
soltou uma risada infernal, no mesmo instante em que começou a chorar: “_Me
ajude por favor”
Helen acordou. O velório estava no fim. Os homens estavam preparando
para carregar o caixão para o carro funerário, a fim de irem enterrar o corpo.
Helen teve um súbito sentimento ruim, pois sua irmã não estava ali sentada ao
seu lado. Júlio que estava chegando naquele momento, viu sua namorada andar de
um lado para outro procurando por alguém e perguntou: “_O que foi Helen? Quem
você está procurando?” Ao que a jovem respondeu: “_Minha irmã, ela sumiu.” O
carro funerário deu a partida e foi em direção ao cemitério, assim como todos
os outros carros acompanhando o cortejo. Helen e Júlio não saíram dali,
continuaram procurando pela irmã. Uma porta então se abriu, era a avó de Helen,
em seus braços estava o corpo da pobre Antonieta. O sangue jorrava como uma
cachoeira, o pescoço da garota tinha ficado irreconhecível. A velha então
falou: “_Vejam só o que fizeram, você estão acabando com a própria vida de
vocês, vocês são uns irresponsáveis. Maria Padilha, não escutem Maria Padilha,
ela irá matar vocês. Vocês irão arder junto com ela nas chamas do inferno.”
Passaram-se uma semana após o ocorrido. A avó de Helen foi internada em
um sanatório, pois não parava de anunciar o nome Maria Padilha, parecia até uma
obsessão. Helen não sabia o que fazer, estava perdida, o mundo parecia ter
virado ao avesso. Resolveu então ir ao hospício visitar a avó e chamou Júlio
para ir com ela. Júlio porém respondeu que iria descansar um pouco, pois desde
que tudo aconteceu ele não havia dormido bem. Concordaram que Júlio a buscaria
mais tarde e assim foi.
Já eram mais ou menos 19:00 quando Júlio chegou no hospício para buscar
Helen. Ao chegar no local, encontrou tudo deserto. Em um quarto alguém chorava
compulsivamente. Curioso, Júlio caminhou guiado pelo som até o local. Chegando
lá, o rapaz abriu a porta. Ele não podia acreditar na cena que estava vendo,
sua namorada estava morta, sem os dois olhos, alguém os havia perfurado
profundamente. Júlio chorou, aquilo era horrível. Alguém atrás dele amarrou um
plástico em sua cabeça, o rapaz lutou, esperneou e não conseguiu se soltar.
Acabou morrendo sem ar. No outro dia cedo, Helen estava sendo levada pra o
hospício, pois teve um ataque de histeria após ter encontrado o namorado morto.
Ela berrava, chorava, amaldiçoava, sua vida havia acabado.
Dias depois em seu quarto, a jovem foi encontrada morta, com os olhos
perfurados. Aquela morte definitivamente não poderia ser considerada suicídio,
porém era a única explicação, já que em suas mãos estava a tesoura que havia
feito o trabalho. Antes de morrer, ela havia escrito algo em um pedaço de papel,
algo que intrigou as autoridades: “Nunca brinque com os mortos, ou eles podem
brincar com você.”