O sangue escorria
pela janela naquela noite chuvosa, o trem estava carregado de partes de corpos
humanos, William se sentia sufocado e desesperado, queria sair dali de alguma
forma, vozes falavam em sua cabeça, ele tentava correr, porém escorregava em
meio às poças de sangue no local, o trem parecia ir a lugar nenhum,
atravessando o túnel numa velocidade furiosa, ele se desesperou, começou a
gritar, mas ninguém poderia escutá-lo, chegou alguém vestido em uma capa preta em sua
frente, essa pessoa possuía uma adaga, não dava pra ver o rosto da pessoa, que
levantou sua adaga pra atingir William, assim que a arma o atingiu, ele acordou
desesperado em sua cama, suava frio, de certa forma deu graças a Deus por ser
apenas um sonho ruim.
Já era manhã, William
preparava suas malas, pois iria fazer uma viagem para uma ilha deserta, onde
possuíam uma clínica de reabilitação para pessoas que sofrerem traumas por
terem visto pessoas sendo mortas ao vivo, o homem era Psicólogo e iria
trabalhar ao lado de uma Psiquiatra famosa, era a primeira vez de William em um
lugar assim e estava realmente ansioso para ver como tudo seria.
Pegou um táxi e foi
até o navio, chegando no mesmo foi recebido por dois policiais que guardariam a
ilha, o capitão e a Psiquiatra, cumprimentou todos e aproveitou para conhecer
seus pacientes e conversar um pouco com cada um.
William reuniu os
pacientes no convés principal para que pudesse conhecer a história de cada um e
já começar o seu trabalho de terapia.
Luma era a primeira
da roda, ano passado ela assistiu seu próprio pai ser arrastado por quilômetros
por um caminhão em alta velocidade, desde então não consegue dormir a noite
ouvindo um som de caminhão e o grito de agonia do pai antes de morrer. Então
foi a vez do Cassiano que era o próximo da roda, ele dizia que dois ladrões
haviam invadido a casa que ele e a esposa moravam, renderam eles, porém no meio
do assalto sua esposa reagiu e tomou um tiro na cabeça, o rapaz ficou imóvel,
os ladrões fugiram, demorou para ele se dar conta do que tinha acontecido, só
acordou de vez na hora que a polícia chegou e o acordou do transe em que ele
havia entrado e então desde esse episódio seu mundo desabou. O próximo da roda
era Natan, ele já estava em prantos, dizia que viu a própria mãe cometer suicídio
em sua frente, ela trancara o próprio quarto e se enforcou lá dentro, quando
ele conseguiu arrombar a porta já era tarde demais e aquela imagem ficou na sua
cabeça desde então. Talita foi a próxima, ela dizia que sofria de depressão
profunda e tentara suicídio várias vezes, para ela não importava mais viver
nesse mundo, seu namorado havia assassinado brutalmente toda a sua família,
quando ela descobriu seu mundo desmoronou e seu gosto pela vida nunca mais foi
o mesmo. Viktor que era o próximo não quis compartilhar sua experiência, dizia
que preferia conversas em particular, no momento não estaria pronto pra
partilhar com todos a sua tragédia. Julie, era o nome da próxima, ela tinha
sinais nítidos de cirurgia pelo rosto, contara que o irmão de seu namorado
matou a família toda e desfigurou o rosto dela, desde então sua vida nunca mais
foi a mesma, o irmão de seu namorado graças ao destino havia sido totalmente
desmembrado por um caminhão enquanto fugia da polícia. A última da roda era Sara,
ela estava totalmente envergonhada e falava de cabeça baixa, sua fala possuía
uma estranha e cativante forma de sedução, mesmo estando falando como se
tivesse vergonha de todos, ela dizia que viu um amigo ser espancado e torturado
por uma gang de rua, parecia que seu amigo devia dinheiro aos caras, ela viu
seu ele agonizar em volta a uma poça de sangue, desde então ela tinha medo de
andar na rua, nunca mais saiu de casa e estava ali para procurar ajuda. William
escutou todos atentamente ao lado da Psiquiatra Fabiana, o psicólogo parecia
ter se interessado pela história de Sara, não tanto pela história, mas ele
realmente havia se encantado com a forma que a garota expôs suas palavras, sua
timidez fazia com que os olhos de William brilhassem com uma intensidade
incomum e seu coração parecia querer saltar da boca, estaria o homem
apaixonado?
Chegaram então à
ilha, todos pegaram suas malas e se dirigiram a clínica, que mais parecia ser
uma mansão, passariam uma semana inteira ali, todos foram para seus respectivos
quartos e se ajeitaram. Ali os pacientes receberiam a terapia e eles mesmos
ficariam responsáveis pela alimentação, como o lugar era rico em frutas e
plantas, poderiam comer destas em abundância.
William reuniu todos
na sala de estar e pediu para fossem descansar, pois pela manhã teriam uma
longa sessão. Todos então foram dormir, enquanto o capitão do navio voltou para
o mesmo, pois seu quarto estaria lá, um dos policiais também foi dormir em uma
parte do navio enquanto o outro ficou de guarda.
Já eram mais ou menos
1 hora da madrugada, quando o policial avistou uma pessoa vestia numa enorme
capa preta andando em meio à floresta que estava ali por perto, ficou um bom
tempo tentando ver se conseguia ver algo ou se era imaginação de sua mente,
como tudo ficou silencioso novamente pensou que não havia com o que se
preocupar, alguém pegou o homem pelas costas, tamparam sua boca e enfiaram um
tipo de faca diversas vezes sobre o seu pescoço, mais especificamente uma adaga,
que fez com que o policial jorrasse sangue e caísse morto com o rosto ao chão.
A pessoa arrastou o corpo do policial até o quarto do capitão, que já estava
morto e com a cama banhada em sangue.
O outro policial
então acordou assustado com uns barulhos vindos do quarto do capitão, chegou à
porta e viu que havia um rastro de sangue que levava até lá, como se alguém
houvesse sido arrastado, o homem então arrombou a porta e não podia acreditar
no que via, praticamente uma mente doentia havia esfaqueado o capitão e o seu
parceiro de polícia, foi quando teve a sensação de que alguém permanecia atrás
de si, quando este se virou, deparou com uma pessoa vestida por uma enorme capa
preta, não dava pra ver de quem se tratava, o assassino então levantou sua adaga
em direção ao rosto do policial e cegou um dos seus olhos, o policial começou
então a gritar de dor e a implorar pela vida, seus gritos de socorro eram
inúteis, pois a mansão tinha um dispositivo que não deixava que barulhos do
lado de fora incomodassem os moradores. O assassino então se sentou sobre a
vítima que permanecia em desespero e enfiou a faca sobre o outro olho, era uma
imagem bizarra, o sangue escoava por sobre os olhos do pobre homem e o maníaco
permanecia em sangue frio esfaqueando lentamente o resto do rosto do pobre
policial, este não agüentou por muito tempo a dor e faleceu com cortes por todo
o rosto, mesmo depois de morto o assassino ainda continuou brincando por alguns
minutos com a faca. O individuo da capa preta tratou de limpar os vestígios e
esconder os corpos no quarto.
Eram mais ou menos
duas e meia da madrugada quando William passava por um corredor da mansão e
avistou Sara sentada no sofá, a mulher parecia estar sem sono. O psicólogo foi
lá conversar com ela pra ver se poderia ajudar em algo, ela respondeu que tinha
perdido o sono pensando nele. O homem então tomou um susto, pois um dos motivos
de ele estar acordado ainda era que ele não conseguia parar de pensar nela, o
psicólogo disse a ela que aquilo era loucura, que os dois eram terapeuta e
paciente e não podiam ter nada mais do que aquilo. Pediu para que Sara fosse
descansar, pois iria conversar com cada um deles bem cedo.
Já era manhã e
William reuniu todos novamente na sala, o homem não parecia ter tido uma noite
muito boa, o cansaço estava estampado em seu rosto. Ele iria atender um por um
em uma sala que tinha nos fundos, seria mais ou menos uma hora para cada,
enquanto isso, os outros poderiam ir dar uma volta.
Talita foi a primeira
a ir até a sala, enquanto estava na terapia os outros saíram para dar uma
volta.
Fabiana estava à
procura de Viktor e Sara, pois os dois pacientes haviam desaparecido e ninguém
os viu pela manhã. A mulher pediu para que Natan e Luma fossem até o navio para
perguntarem ao capitão se teriam avistado o rapaz. Subiram no navio e
perceberam que o silêncio ali imperava, Natan disse para Luma ir até a cabine
ver se o capitão estaria lá enquanto ele iria até o quarto do velho. Luma foi
até a cabine e não encontrou ninguém, ela pensou o quanto aquela situação era
estranha, pois o homem e os policiais deveriam estar a postos para protegê-los
e levá-los embora se alguém passasse mal. Quando ela se virou deu de frente com
uma pessoa vestida em uma capa preta, ficou parada um momento e então ela perguntou
quem era e o que a pessoa queria, o assassino da capa preta então rasgou o
pescoço da mulher com a sua adaga, tudo tão rápido que Luma não conseguiu nem
gritar, caiu morta em meio a poça de sangue que jorrou de suas artérias.
Como ninguém abriu o
quarto para Natan, ele começou a tentar arrombar a porta, foram uma, duas, três
tentativas, até que finalmente ele colocou a porta ao chão. Olhando para dentro
do quarto ele não poderia acreditar no que via, o capitão e os dois policiais estavam
mortos sobre a cama e o quarto coberto de sangue.
Quando se virou para
correr e ir avisar os outros, deu de cara com William, que disse ter ouvido uns
gritos vindos de lá. O homem achou aquilo estranho, pois não havia escutado
nada, mas mesmo assim mostrou para o psicólogo o que acontecera por ali.
William com toda a sua calma levou o homem de volta a mansão e pediu para ele
não causar alarde, que fossem e avisassem a Fabiana o que acontecera ali, porém
os outros pacientes não poderiam saber.
Conversaram os três
sobre isso, e Fabiana parecia apavorada. Os três pensavam que seria Viktor o
responsável pelas mortes, foi quando o mesmo chegou até a mansão, todo ensanguentado
e ofegante culpando William, dizia ele que o homem tentou matá-lo na noite passada,
porque ele viu o que o psicólogo fez aos policiais e ao capitão. Ele esteve desacordado
desde então, chegou ali por milagre, estava bastante agitado e ferido, foi quando
ele desmaiou.
Julie e Cassiano
estavam ali por perto e se chocaram com a cena, Natan afastou-se de William e
Fabiana o olhou desconfiada, o psicólogo tentou tranqüiliza-los, dizendo que
não sabia o que ele estava dizendo, a psiquiatra chamou Cassiano e pediu que
ele e Natan vigiassem o homem enquanto ela e Julie iriam levar o homem ferido
até uma cama e tentar reanimá-lo.
Enquanto elas foram,
William ficou tentando se explicar, dizendo que aquilo era uma besteira, foi
quando chegou alguém vestido em capa preta pela porta principal e foi
caminhando até eles, na distração William correu e Natan foi logo atrás,
Cassiano ficou ali parado e perguntou quem era, porém a pessoa não respondia,
Cassiano tentou agredir o indivíduo que o apunhalou no estômago, quando o homem
caiu ao chão o assassino pegou a televisão que estava ali perto, levantou-a e
arremessou contra a cabeça da vítima, que morreu instantaneamente.
Enquanto isso William
entrou na sala em que havia consultado Talita e se trancou lá. Natan então fez
um esforço e arrombou a porta, o que havia ali dentro ele não poderia
acreditar, a paciente foi enforcada com um fio de telefone e sua barriga estava
aberta, com as tripas caindo para fora do corpo. William estava em um canto da
sala e começou a rir, porém logo parou, alguém que estava atrás de Natan
amedrontou o psicólogo.
Foi quando Natan
olhou para trás e tomou uma punhalada na cabeça, quando caiu ao chão o
assassino ainda esfaqueou o rapaz várias vezes até ter a certeza de que ele não
levantaria.
William esperou com
que o assassino fosse até ele para matá-lo, porém o mesmo saiu dali. O
psicólogo não entendeu muito bem aquilo, o mais engraçado então era de que ele
não era o único com sede de sangue por ali, ele pensou e pensou, mas ninguém
havia demonstrado pensamentos psicóticos, pelo menos não os que estavam vivos.
William subiu as
escadas e foi até o quarto em que Fabiana e Julie estavam, parou ali perto e observou
atentamente para dentro, como percebeu que apenas Julie estava ali, entrou no
quarto com uma tesoura e pulou pra cima da mulher, o homem fincava a tesoura
por sobre o rosto da mulher que chorava e implorava por piedade, enquanto o
psicólogo ria e se deliciava mais e mais com aquilo, foi quando a mulher
morreu. O homem levantou-se então e cravou a tesoura no coração de Viktor que
estava deitado na cama, o trabalho de William ali estava terminado, faltava
apenas dar um jeito em Fabiana.
O psicólogo foi até o
lado de fora da mansão, enquanto caminhava até o navio foi surpreendido com um
golpe desferido por Fabiana, ela estava com uma barra de metal em mãos e
prometeu que iria matar o homem, que ele era um louco, quando estava para bater
mais uma vez no homem com a barra de metal, a psiquiatra sentiu algo
atravessando seu pescoço, era uma adaga, Fabiana soltou a barra e olhou para
trás, a pessoa que fez isso com ela era Sara, a mesma pegou o ferro que estava
no chão e arremessou contra a cabeça da psiquiatra que morreu na hora. William
então se levantou, olhava atentamente nos olhos de Sara, esta andou até ele
chegou com os lábios próximos ao dele e deu-lhe um beijo ardente, ficaram por
algum tempo se beijando como dois apaixonados, a mulher contou então a ele que
o ajudou porque o amava e estaria do lado dele até o fim de sua vida.
Depois de conseguirem
comunicação com a central, o resgate chegou até a praia, William explicou como
a atitude e a personalidade de Fabiana estavam alterados, o que levou a mulher
a matar à todos, explicou de forma tão convincente como sobreviveram que a
versão dele ficou como sendo a verdade.
Um ano após todos
esses acontecimentos, realizou-se um casamento, divulgado pela mídia como o
casamento dos sobreviventes. William e Sara estavam apaixonados, um amor lindo
e intenso e que poderia quebrar todas as barreiras da sanidade.