22 de out. de 2013

Maria Padilha

Era uma noite escura e fria, já se passavam das 11 da noite. Helen estava a caminho da casa de sua avó. Chegou na porta e chamou, porém ninguém atendeu. A garota chamou mais algumas vezes e nada de alguém responder. Helen resolveu entrar na casa de sua avó, caminhou em direção à sala, chamou novamente mas ninguém respondeu. A garota resolveu ir até o quarto da avó, chegando lá, encontrou algumas pessoas saindo do quarto, todas vestidas de médico. O local estava visualmente diferente, parecia mais como um banheiro sujo do que um quarto. Uma mulher branca, de cabelos negros se encontrava chorando com uma das mãos entre o rosto e com um bisturi em mãos. Helen caminhou em direção à mulher para perguntar o que estava acontecendo, foi quando a mulher tirou a mão do rosto e virou para a garota dizendo em tom agressivo: "_Olhe o que você fez, olhe. Você irá pagar, todos irão pagar." O rosto da mulher estava horrível, sua face estava super pálida, seu olho esquerdo estava dependurado por um nervo, seu outro olho era nitidamente azul. A mulher então deu um último grito: "_Irei matar todos vocês." A mulher avançou contra Helen, a garota estava tremendo de medo e suando frio, ela não conseguia se mover, enquanto que a mulher lançou o bisturi de encontro ao olho da garota e em tom lento ia perfurando o globo ocular da pobre.
Já era manhã. Helen acordou desesperada. Por sorte, tinha sido tudo um sonho, um terrível sonho que finalmente teve um fim. Seu namorado acordou com o grito que ela deu ao acordar, perguntando preocupado o que havia acontecido. Helen contou cada detalhe e estranhamente Júlio dizia ter tido um sonho com uma mulher parecida com a que a garota descreveu. Helen soltou uma risada dizendo: "_Estamos ficando loucos e paranóicos. Aquilo que fizemos foi apenas uma brincadeira, pois a lenda de Maria Padilha é apenas lenda, não devemos ficar com isso na cabeça, estamos parecendo crianças de 6 anos." Júlio não era de total acordo: "_Não sei Helen, vamos até a casa de sua avó, ver como estão sua irmã  e o seu primo. Ontem eu não lhe contei, mas Edgar estava me dizendo que estava tendo sonhos frequentes com a mulher que sonhamos hoje, não seria uma coincidência muita estranha?" Helen deu de ombros: "_Estamos sendo apenas crianças infantis e assustadas."
Chegando na casa da avó, perceberam que algo estranho acontecera. A polícia estava no local. Antonieta, a irmã de Helen, chorava aos soluços na porta. Edgar, o primo de Helen estava morto. Aparentemente parecia assassinato, porém não encontraram vestígios para que alguém pudesse ser o culpado. Não havia digitais, não havia pistas, não havia motivos. Porém, é muito estranho deduzir que alguém amarrou uma corda no pescoço e se enforcou até quase arrancar a própria garganta. A avó de Helen estava horrorizada, se encontrava em choque. Helen perguntou: “_Vovó, a senhora está bem?” A velha respondeu: “_Ela irá matar todos vocês, pois vocês são os jovens idiotas que acordaram a Maria Padilha.” Helen se espantou com o que a avó acabara de falar, afinal ninguém mais sabia do que haviam feito, a não ser ela, o namorado, Edgar que havia morrido e Antonieta. Júlio completou: “_Viu só, eu sabia que não era uma boa ideia brincar com estas coisas.” Helen deu de costas: “Isto foi tudo um mal entendido, afinal Edgar já era depressivo, pra mim foi suicídio e eu não ligo se ele o fez, acho tão idiota isto. Ele acaba de deixar a família triste por ele e isto é desumano.”
Já era manhã, todos os policiais haviam saído do local, o corpo agora estava em um caixão, em volta desse caixão muitas pessoas tristes. Familiares e amigos lamentavam a perda de um ser tão querido para eles. Alguns diziam: “_Pobrezinho, a depressão acabou com ele.” Outros ainda: “_Tão jovem, acabando assim com a própria vida, que desperdício.” Helen estava lá ao lado de Júlio. Apesar de se esconder por trás de uma jovem dura e sem sentimentos, ela estava profundamente triste com o que tinha acontecido. Por um momento Helen sentiu um calafrio na espinha, uma voz conhecida sussurrou em seu ouvido: “_É apenas o começo.” A garota virou rápido para trás e não viu ninguém. Ao seu lado ela ouviu uma jovem lamuriando: “_Que inveja eu tenho do Edgar, queria eu ter coragem para fazer o mesmo.” A mesma voz que sussurrou falou para a garota: “_Simples, eu o faço por você.” Helen se virou para ver o que estava acontecendo. A cena era horrível. A mulher rasgava o pescoço da garota com violência e prazer. Dos olhos da garota caíam rios de lágrimas, enquanto que a sua assassina ria freneticamente. A mulher então empurrou a garota para o lado, esta caiu sem vida em meio todo aquele “mar vermelho” que escapou de sua artéria. Helen olhou para a assassina e teve um sobressalto. Era a mesma mulher de seu sonho. Seu olho esquerdo permanecia dependurado por um nervo, do mesmo jeito que estava no último sonho. A mulher como sempre com suas vestes de paciente e um ódio de dar medo estampado em seu rosto. Ela então gritou: “_Mais uma se foi, olhe você mesmo Helen, tente me dizer se você será capaz de sobreviver. Irei arrancar seu nervo óptico sem anestesia e você sofrerá as dores do inferno.” Após a fala da mulher, a garota que estava supostamente morta se levantou. Helen não a havia conhecido da primeira vez, pois esta possuía um capuz sobre o rosto, porém dessa vez ela retirou o capuz. Para horror de Helen, era sua irmã, esta falou para Helen engasgando em seu próprio sangue: “_Veja só o que fizemos. Vovó tinha razão, Edgar está arrependido, eu também estou, mas eu não te amo, quero a sua morte irmãzinha.” Dito isto, soltou uma risada infernal, no mesmo instante em que começou a chorar: “_Me ajude por favor”
Helen acordou. O velório estava no fim. Os homens estavam preparando para carregar o caixão para o carro funerário, a fim de irem enterrar o corpo. Helen teve um súbito sentimento ruim, pois sua irmã não estava ali sentada ao seu lado. Júlio que estava chegando naquele momento, viu sua namorada andar de um lado para outro procurando por alguém e perguntou: “_O que foi Helen? Quem você está procurando?” Ao que a jovem respondeu: “_Minha irmã, ela sumiu.” O carro funerário deu a partida e foi em direção ao cemitério, assim como todos os outros carros acompanhando o cortejo. Helen e Júlio não saíram dali, continuaram procurando pela irmã. Uma porta então se abriu, era a avó de Helen, em seus braços estava o corpo da pobre Antonieta. O sangue jorrava como uma cachoeira, o pescoço da garota tinha ficado irreconhecível. A velha então falou: “_Vejam só o que fizeram, você estão acabando com a própria vida de vocês, vocês são uns irresponsáveis. Maria Padilha, não escutem Maria Padilha, ela irá matar vocês. Vocês irão arder junto com ela nas chamas do inferno.”
Passaram-se uma semana após o ocorrido. A avó de Helen foi internada em um sanatório, pois não parava de anunciar o nome Maria Padilha, parecia até uma obsessão. Helen não sabia o que fazer, estava perdida, o mundo parecia ter virado ao avesso. Resolveu então ir ao hospício visitar a avó e chamou Júlio para ir com ela. Júlio porém respondeu que iria descansar um pouco, pois desde que tudo aconteceu ele não havia dormido bem. Concordaram que Júlio a buscaria mais tarde e assim foi.
Já eram mais ou menos 19:00 quando Júlio chegou no hospício para buscar Helen. Ao chegar no local, encontrou tudo deserto. Em um quarto alguém chorava compulsivamente. Curioso, Júlio caminhou guiado pelo som até o local. Chegando lá, o rapaz abriu a porta. Ele não podia acreditar na cena que estava vendo, sua namorada estava morta, sem os dois olhos, alguém os havia perfurado profundamente. Júlio chorou, aquilo era horrível. Alguém atrás dele amarrou um plástico em sua cabeça, o rapaz lutou, esperneou e não conseguiu se soltar. Acabou morrendo sem ar. No outro dia cedo, Helen estava sendo levada pra o hospício, pois teve um ataque de histeria após ter encontrado o namorado morto. Ela berrava, chorava, amaldiçoava, sua vida havia acabado.

Dias depois em seu quarto, a jovem foi encontrada morta, com os olhos perfurados. Aquela morte definitivamente não poderia ser considerada suicídio, porém era a única explicação, já que em suas mãos estava a tesoura que havia feito o trabalho. Antes de morrer, ela havia escrito algo em um pedaço de papel, algo que intrigou as autoridades: “Nunca brinque com os mortos, ou eles podem brincar com você.”

8 de mai. de 2013

O Mistério do Circo 9


Enquanto todas as crianças da cidade corriam para ir ver os espetáculos do Circo 9, Karoline estava escondida em baixo de sua cama. Seus avós queriam levá-la ao circo que estava na cidade, porém a garota tinha um medo terrível de palhaços. Todas as crianças da idade dela sempre amavam ir ao circo e o medo de Karoline era inadmissível e sem fundamentos para os avós. Marta, sua avó, tentava a convencer de todas as formas. Dizia que não tinha o que temer, afinal o vô Mauro e ela a protegeriam, palhaço algum iria se meter com ela, isso sem contar que eles tentavam colocar de todas as formas na cabeça da garotinha que os palhaços eram bonzinhos.
Por fim Mauro disse a neta: "_Se for conosco irei lhe dar uma caixa de chocolates depois." Os olhos da garotinha brilharam, afinal sua paixão era comer chocolate. Karoline saiu então de seu esconderijo e foi junto de seus avós, porém seu medo ainda estava lhe apertando o coração.
Chegaram então ao circo. Por todos os lados chegavam crianças juntas de seus pais. Karoline havia perdido os pais muito cedo, seus avós nunca contaram a ela o que aconteceu, diziam todas as vezes que quando ela estivesse maior e mais preparada para saber das coisas, eles contariam.
O espetáculo estava pra começar. Logo trapezistas e malabaristas começaram a festa, as pessoas vibravam a cada movimento realizado com sucesso. Algum tempo depois chegou a vez dos palhaços, com suas piadas simples e seus movimentos hipnóticos que levavam o público as gargalhadas. A única que parecia não achar graça alguma era Karoline, ela via algo diferente no sorriso dos "caras pintadas". Seus avós pareciam hipnotizados com o show, riam como se fossem crianças. Um dos palhaços fez um cachorrinho com um balão e caminhou na direção de Karoline. O homem sorriu para ela e falou: "_Este é para você garotinha, você é especial para nós." Karoline exitou, porém Marta pegou o presente para ela e agradeceu. O palhaço mostrou um sorriso enigmático e voltou para continuar suas "palhaçadas".
Assim que acabou o espetáculo, as pessoas saíam do local e iam para o parque que ficava no mesmo local. Tinha montanha-russa, roda-gigante e muitos outros brinquedos para o divertimento das crianças. No mesmo local também ficava o trailer dos artistas do circo. Um pouco mais afastados, ficavam os trailers dos palhaços. O local em que ficavam era bastante colorido, com imagens felizes, algo totalmente doce e infantil, o que tornava impossível o sentimento de medo por parte de qualquer um, menos pela parte de Karoline que nem se pagassem ela se aproximaria de lá.
Enquanto caminhavam, dois palhaços pararam na frente deles e começaram a contar piadas. Os avós da garotinha permaneciam imóveis, como se tivessem entrado em algum tipo de transe. Quando a garotinha se preparou para correr, uma garota a interceptou e a pegou pelos braços dizendo: "_Acalme-se menininha, eu não deixarei que façam mal algum a você" Karoline sentiu vontade de gritar, mas não gritou. Um sentimento estranho havia tomado conta dela ao encontrar aquela estranha. Estranha esta que aparentava ter mais ou menos uns 15 anos, enquanto que Karoline tinha apenas 8.
A garota carregou Karoline por alguns metros e parou em frente a uma porta colorida, tão colorida que chegava até a arder os olhos. Bateu na porta e um homem enorme abriu a porta, convidando as garotas para entrar. Assim que as duas entraram ele trancou a porta e acendeu a luz. Para desespero de Karoline haviam ali naquele local uns 10 palhaços, 7 homens e 3 mulheres. A garotinha estava prestes a entrar em choque, até que a garota que estava do seu lado falou: "_Acalme-se, irei lhe ensinar como agradar a Baruatã." Ela então caminhou na direção de uma cama que estava coberta. Os palhaços puxaram a capa que estava por cima, na cama estava uma mulher jovem e nua, que começou então desesperadamente a gritar por ajuda. Um dos palhaços disse a garota: "_Vamos Anelize, não temos o tempo todo. Precisamos de mais uma alma para o nosso deus, sem dizer que estamos famintos."
Anelize então começou a prece: "_Baruatã, protetor dos palhaços e senhor do bom humor, lhes oferecemos mais esta alma que irá servir de alimento para o senhor, enquanto que o seu corpo, já banhado pela sua benção, irá servir de alimento para nós, teus fiéis servos, afim de que toda a magia de sua simpatia invada as nossas mentes, afim de que sejamos geniais e agradáveis ao nosso público e que possamos levar alegria a todas as pessoas do mundo, amém." No mesmo instante, cada palhaço pegou um facão. Anelize pegou uma faca menor e entregou para Karoline. Anelize voltou para o lado da jovem mulher que estava presa a cama sem entender do que se tratava. A garota apenas disse a ela: "_Nos desculpe, não é nada pessoal". Começaram então avançar contra a mulher, que sem saber o que estava acontecendo gritava desesperada por ajuda. Cortaram os seus braços, depois uma de suas pernas com ela ainda viva. Alguns já haviam partido alguns dos pedaços cortados e comiam como se estivessem sem alguma refeição à dias. A mulher na cama esguichava sangue pelas extremidades cortadas, estava babando de tanta dor, seus olhos pareciam não ter mais vida. Anelize olhou nos olhos dela e mostrou um pedaço de uns dos dedos que haviam tirado da pobre mulher. A garota lambia o dedo, até que mordeu com ira e mastigou com vontade. Aquela cena era perturbadora ao extremo, como uma garota daquela idade podia se portar daquela forma? Até que Anelize falou: "_Agora eu quero um de seus olhos". E com a faca na mão, perfurou a cavidade do olho da mulher, que morreu depois de um grito perturbador.
Karoline estava em choque, não conseguia acreditar que aquilo tudo estava acontecendo. Começou a chorar compulsivamente, chegava até a soluçar. Anelize chegou perto da menina e falou: "_Um dia você também fará a vontade de nossos pais, quando esse dia chegar o senhor Baruatã ficará feliz em ter uma nova serva, enquanto este dia não chega, você pode voltar para aqueles velhos caducos." Karoline parecia tão transtornada que não parecia ouvir uma única palavra, até que desmaiou. Uma voz ao fundo falou para Anelize: "_Devolva-a para aqueles velhotes, a hora dela ainda não chegou. Com o tempo, ela será nossa."
Karoline havia sido encontrada por seus avós naquela mesma noite. O tempo se passou e na cabeça da garotinha e de seus avós tudo aquilo que ela dizia ter visto não passava de algo criado pela imaginação e pelo medo que ela sentia. Com seus 16 anos, Karoline perdeu seu avô, vítima de um câncer de estômago. Sua avó morreu na cama de um hospital, pouco antes da garota completar seus 18 anos. Antes de morrer, sua avó Marta resolveu lhe contar a história de seus pais: "_Karoline, antes de partir eu tenho que lhe dizer algo. Sua mãe era uma linda garota, assim como você e sempre nos deu muito orgulho, mas tudo mudou quando ela conheceu seu pai. Ele era artista de circo, pra ser mais direta, ele era palhaço. Eles se conheceram e se apaixonaram no mesmo circo que passa aqui todos os anos. No começo eu e seu avô fomos contra tudo aquilo, até que o circo foi embora e Alessandro que era o nome de seu pai, levou nossa querida filha com ele. Ficamos muito chatiados com tudo aquilo, afinal não era aquele futuro que nós queríamos para a nossa filha, mas quando o circo voltou, Rebeca já estava grávida de seu pai, foi ai que nossos olhares mudaram. Como as coisas não podiam regredir, fomos visitar sua mãe e resolvemos apoiá-la. Ela, assim como seu pai, havia entrado pro mundo do circo, chegamos a assistir vários espetáculos dela. Sua irmã cresceu junto com seus pais na vida do circo, eram muito felizes. Até que sua mãe ficou grávida novamente e era de você, mas tudo foi muito estranho nesta segunda gravidez. Ela veio chorando até eu e seu avô e pediu que quando você nascesse, para que ficássemos com você, que ela não queria aquele mesmo futuro para mais um filho. Não entendíamos o porque de tudo aquilo, eles pareciam tão felizes. Assim que você nasceu, Rebeca trouxe você para mim e pediu para que eu fizesse uma viagem, de pelo menos uma semana. Ela saiu decidida a fazer algo. Eu e seu avô resolvemos fazer conforme ela nos pediu. Passados uma semana nós voltamos, com a triste notícia de que ela havia atirado contra o próprio marido e depois se matou com um tiro na boca. Ficamos arrasados com tudo aquilo. Ainda tentamos ir atrás de notícias de nossa outra neta, a Anelize, mas infelizmente nunca mais a encontramos. Esta é a história minha filha, eu não podia te contar quando era mais nova pois é tudo muito confuso, mas sei que agora você tem cabeça o suficiente para absorver a informação." Karoline ouviu perplexa toda aquela história, como era trágica a história de seus pais, porque sua mãe fez tudo aquilo? E sua irmã, onde estava? Anelize, que nome mais familiar. Ela estava recorrendo à memória para lembrar de onde ela conhecia aquele nome, até que um arrepio lhe subiu a espinha. O que todos fizeram ela pensar que tinha sido um terrível pesadelo de infância, poderia ser a fatídica realidade.
Karoline foi morar com seus tios. Rafael e Rosalinda viviam só, seus dois filhos já haviam se formado e foram viver suas vidas. Karoline trabalhava em uma loja perto da casa de seus tios. Um dia enquanto trabalhava, pôde observar a chegada do Circo 9 à cidade novamente, a moça sentia uma enorme curiosidade de ir até o circo e procurar pela suposta Anelize, mas tinha um certo receio de tudo. Apesar do tempo ter se passado, seu medo por palhaços só havia aumentado, principalmente pelo fato que ocorreu na sua infância.
Já era tarde da noite, Karoline estava fazendo hora extra. Exausta, decidiu deixar o resto do serviço para outro dia e foi embora para descansar. Chegando na casa de seus tios, encontrou a porta aberta. Os móveis estavam revirados, parecia ter passado um furacão por ali. Onde estariam seus tios?
Karoline correu em direção a um telefone, até que levou um golpe e desmaiou. Acordou mais tarde amarrada a uma cadeira. Sentada na frente dela estava Anelize. Ela havia se tornado uma bela e atraente mulher. O nariz de palhaço que ela usava na hora realçava de forma enigmatica todo o seu charme. Anelize então falou a mulher: "Foi _algo magnifíco tudo o que papai fez por este circo, mas mamãe quis estragar tudo o que construímos. Nunca entendi os motivos dela, ela tinha uma vida de rainha junto ao papai. Felizmente ela não conseguiu seu intento de matá-lo, não é mesmo papai?"
Os olhos de Karoline se arregalaram. Um velho, apoiado por um andador veio com dificuldade na direção das duas: "_Sim minha filha querida. E agora, nossa família está reunida novamente, o senhor Baruatã ficará satisfeito. Esse é o sinal da nova era para o circo 9. Todos aqueles palhaços que estão na outra sala devorando seu tio deverão ser dizimados, temos de começar tudo desde o começo. Traga sua tia até aqui para o ritual de iniciação da sua irmã e peça para os outros colaboradores entrarem no aposento principal, para que o senhor Baruatã enviem para eles uma benção mais poderosa." Dito isto, os dois riram diabolicamente.
Anelize fez conforme seu pai ordenou. Reuniu todos os palhaços numa cabine e os trancou. Alguns sem entender reclamaram, porém a mulher pediu para que permanecessem quietos para receberem a benção. Anelize foi atrá de um galão de gasolina e começou a despejá-lo em volto da cabine, os que estavam dentro da mesma olhavam e reclamavam sem entender. A mulher então acenteu um fósforo e jogou na direção deles, começando a oração clássica ao senhor deles. Os palhaços gritavam desesperados, alguns a amaldiçoavam chamando-a de traídora, outros pediam clemência a Baruatã, na esperança de que a entidade fosse salvá-los. Morreram todos queimados.
Anelize foi até onde a sua tia estava presa, a pegou e levou até Karoline e seu pai. Pronto papai, a titia está aqui para ser sacrificada para o bem de nossa irmã. Karoline chorava e pedia para que parassem com aquilo. Alessandro virou para Karoline e disse: "_Calma filhinha, sua mãe reagiu da mesma forma no começo, mas com o tempo ela se acostumou. Até se casou comigo, me dando duas lindas alegrias. Agora está na hora de você seguir o costume da família."
Anelize então enfiou um punhal na barriga de sua tia e rasgou a carne da mesma até a altura do pescoço, jogando o corpo da tia em cima de Karoline que estava aos gritos. Anelize professou uma oração enquanto o sangue jorrava em cima de sua irmã: "_Senhor Baruatã, ofereço a alma e o sangue desta mulher, para professar a sua mais nova colaboradora. Karoline será uma sacerdotisa, conforme ordenado pelo senhor ao meu pai e eu como humilde serva, lhe rogo que todo o seu poder e vontade sejam feitos."
No mesmo momento Alessandro bateu o andador na cabeça de Anelize. Assustado e sem entender aquilo tudo, seu pai riu e bateu o andador novamente na cabeça da filha dizendo: "_Desculpe, mas tinha de ser assim."
Alessandro foi até Karoline, tirou o corpo de sua tia de cima dela  e a desamarrou. A garota parecia estar em choque, seu pai então começou a falar: "_Olhe garota, você foi a escolhida pelo nosso senhor, você deverá fazer a vontade dele, assim deve ser." Karoline então retrucou: "_Seria mais fácil me matar, não irei fazer isto." A garota deu um chute no saco do velho e quando ia correr, seu pai a puxou pelo tornozelo a derrubando: "_Nunca sua piranha.Todos acreditaram na minha versão de que sua mãe havia tentado me matar e depois se suicidou. Mas no caso, quem a matou fui eu, ela tirou você de mim, logo você, que era a promessa de Baruatã, ele me disse que minha segunda filha seria a minha principal herdeira e que Anelize deveria ser sacrificada quando crescesse. Se você não vai servi-lo por bem, irá servi-lo por mal." O velho então se levantou e arrancou uma pistola, atirando contra as duas pernas de Karoline: "_Implore pela sua vida, sua alma pertence a ele, implore sua vadiazinha." Atrás do velho, estava a sombra de Anelize, ela segurava algo grande nas mãos. Alessandro rapidamente se virou para atirar, mas não havia ninguém ali. Quando Anelize falou bem perto de seu ouvido: "_Adeus papai."
Um facão perfurou o pulmão do velho, a arma caiu de sua mão, ele caiu de joelhos. Sem tirar o facão do lugar Anelize surgiu de frente a ele: "_Mande lembranças para mamãe e para o seu senhor no inferno, eu sou a nova deusa desse local." Sem piedade alguma a mulher pegou um canivete e começou a cortar o pescoço do próprio pai. O sangue jorrava num ritmo frenético, a vida do homem desapareceu em seus olhos em alguns segundos, até cair em meio ao seu próprio rio de sangue.
Anelize foi até sua irmã, a colocou na cadeira. Karoline estava pálida, assustada, não sabia o que fazer. Anelize foi até o corpo do pai e pegou o revólver, entregando nas mãos de sua irmã e moldando as mesmas para mirar contra Anelize: "_Vamos Karoline, acabe com tudo isto, você é a escolhida. Por isso mamãe te poupou, você deveria acabar com esta doença de nossa família que se chamava Baruatã. Nunca acreditei na existência dele, essa lenda maldita. Se ele for algum deus, eu sou uma espécie de herege. Eu acreditava no poder de papai, mas vejo que eu era bem mais capaz que ele, não credito nisso, isto é o fim. Afinal eu era uma assassina sedenta por sangue e não uma adoradora patética de um deus sem poder algum. E agora, estou prestes a receber a tal justiça divina em que o papai acreditava. Você é a escolhida dessa entidade patética que nunca teve poder algum sobre mim, vamos Karoline, dê um fim a esta traídora. Devo lhe contar algo. Papai matou mamãe, pois mamãe queria me tirar daqui, ela assim como eu percebeu que aquele deus era uma farsa, que servia aos caprichos canibais de papai, por isso ele a matou. Eu nunca fui uma canibal, nunca gostei de carne humana, ela tem um gosto horrível, meus prazer estava apenas em observar a vida das pessoas indo embora, vidas insignificantes e dolorosas que se libertavam de maneira magnífica, é fantástico observar a vida abandonar as pessoas, eu acredito em mundos felizes fora daqui, mas não creio numa felicidade real para quem acreditasse nessa entidade inútil, espero que eles paguem por tudo o que fizeram e assim que eu sair desta vida, irei satisfeita e feliz, pois fiz bem meu papel de anjo da morte."
Karoline ouviu tudo atentamente, estava comovida com a história da irmã. Anelize então começou a soltar uma gargalhada e a gritar com força para a garota atirar. Karoline então apertou o gatilho. Naquele momento o mundo pareceu ter paralisado. Anelize permanceceu sorrindo na frente da irmã. Desesperadamente Karoline apertou o gatilho mais algumas vezes sem sucesso algum. Anelize então falou: "_Você e o patético Baruatã falharam novamente. Aquele senhor patético, só lhe resta o esquecimento pois ele nunca existiu. Já você, irá fazer uma visitinha aos nossos avós." E rindo, começou a enforcar sua irmã. Uma cena angustiante. Anelize observava os olhos de Karoline perderem o brilho da vida, brilho este que sumiu sem direito a um último suspiro.
Anelize estava satisfeita com o resultado de tudo. Ela finalmente havia se libertado da escravidão. Ela agora poderia aproveitar sua vida, poderia ser feliz até o fim de sua vida. A mulher caminhou em direção a um espelho e olhou fixamente para si mesma. Ela gostava do que via, seus olhos não possuíam a essência da vida, seu olhar era frio e vazio como o de um cadáver, foi assim que ela se convenceu de que ela era o anjo da morte, foi assim que ela descobriu que tinha um poder maior do que a da entidade criada por seu pai.
Anelize colocou fogo no circo e o abandonou. Caminhou sem rumo pela estrada repetindo a si mesma: "_A principal mentira é a que contamos a nós mesmos. Sim, Nietzsche tinha razão, pelo menos em partes, ele tinha razão."

27 de jan. de 2013

Amor, estranho amor

O rapaz a perseguia já fazia alguns minutos... Era tarde da noite... Karina começou então a correr desesperada e a gritar por socorro... Foi surpreendida na esquina por um rapaz que mantinha um relacionamento secreto com a garota... Seu nome era Raí... Um rapaz apaixonado, que vivia tentando conquistá-la, porém ela dizia que seu coração era de outro e seu relacionamento com Raí era apenas um divertimento para os dois... 
Ele tampou a boca dela e pediu para que não gritasse, pois o homem poderia achá-los...
Karina concordou e os dois se esconderam atrás de alguns arbustos... 
O homem passou direto... Porém Karina achou estranho o fato de o homem que passou por lá ser um policial... O rapaz atrás dela a segurou forte e forçou um pano embebido em éter no rosto da garota...
Ela acordou horas depois em um quarto... As fotos da garota decoravam a parede... Raí pelo visto era obcecado por ela...
Ele então surgiu com o rosto em uma janelinha do quarto: "_Olá docinho(apelido pelo qual ele a chamava), você viverá aqui para sempre ao meu lado... Distante de tudo e de todos... Aquele dia o policial estava procurando por mim e não por você... Eu dei um fim no seu amado, pois ele atrapalhava o nosso amor... Mas vejo que ter você assim tão facilmente não tem graça... A adrenalina do ciúme era bem mais excitante... Portanto, você irá ficar ai dentro, mas nunca estará sozinha comigo... Quando tiver saudades de quem impede o seu amor por mim, basta abrir aquele baú(apontando a mão para um baú que estava no canto do quarto)..."
Raí se retirou aparentemente, a garota foi até onde o baú estava e o abriu... A imagem que ela viu partiu profundamente o seu coração e seus olhos se encheram de terror e lágrimas... Roberto(seu amado) estava com o corpo em pedaços flutuando sobre seu próprio sangue...
Raí abriu a porta do quarto e percebeu que a garota estava em choque: "Você é uma vergonha para mim Karina, pensei que seria mais forte diante de tal situação... Meu desejo era te esfaquear agora e deixar você ir para junto do idiota que você merece, porém o amor vergonhoso que permiti sentir por você foi mais forte... Aqui está uma corda e uma cadeira, dá pra amarrar a corda ali em cima, acabe com os seus problemas e acabe com os meus também... Pois me preocupar com você e pensar em você 24 horas por dia acaba comigo..." Raí então saiu e fechou a porta...
Algumas semanas depois a polícia encontrou o corpo de Karina enforcado em um quarto vazio e sem as fotos, que provavelmente Raí as retirou por precaução... No canto o baú com o corpo de Roberto... Um crime horrendo, que tinha Raí como suspeito... Porém a culpa caiu em Karina... Na versão da polícia a garota matou o rapaz, talvez por ciúmes, pois todos sabiam que ela amava o Roberto... Logo depois arrependida do que fez, foi lá e se enforcou... Uma tragédia que abalou toda a cidade...
Raí estava apaixonado novamente... Aline, uma garota linda e de olhos azuis havia chamado sua atenção... Há alguns dias atrás ele encontrou a garota chorando porque seu ex-namorado a havia abandonado... Raí resolveu consolar a pobre... Com o tempo já tinham algum relacionamento, porém Aline não escondia o fato de que os sentimentos por seu antigo amor ainda existiam... Raí se virou de forma carinhosa e estranha para a garota: "Fique tranquila... O amor é assim mesmo... Uma hora vem, outra hora se vai... Com o tempo a dor se torna maior e aprendemos a nos acostumar com ela... E o melhor meio de se acostumar com a dor é aprendendo a usá-la 'docinho' "
Ela fingiu que entendeu e deu um sorriso meio disfarçado, deu um beijo em Raí e disse: "Já está tarde, devo ir embora... Até amanhã..."
Quando ela estava pra sair foi surpreendida por Raí, que a segurou com um pano de éter no rosto... A garota caiu desmaiada...
Raí então tirou de dentro do bolso de sua calça, as fotos de Karina e outras três garotas que fizeram o coração de Raí bater mais forte... Ele deixou escapar um leve sorriso no canto do rosto e disse para si mesmo: "Espero que essa valha a pena, afinal as outras foram apenas decepções amorosas... Agora sim entendo porque os grandes poetas sofriam por amor... Afinal, são poucas as pessoas que estão dispostas a nos aceitar como somos e ser companheiras de caminhada... Um dia quem sabe eu encontre alguém que estará disposta a compartilhar comigo os meus prazeres e sofrimentos... Até lá, talvez eu tenha ainda muitas decepções..."
Terminou então de refletir e carregou o corpo de Aline até um quarto decorado com as fotos dela... No fundo do quarto um baú, que poderia esconder um terrível segredo... Ou de acordo com o ponto de vista de Raí... Ali dentro estava a chave da libertação...